terça-feira, 7 de julho de 2015

Descanso em Paz, Meu Amor


Não concordo com a ideia de que todos temos uma missão no mundo, p'ra mim, alguns de nós apenas existe para tornar a terra ainda mais quente e perdurar o odor do suor. Somos sete biliões de pessoas competindo por um espaço que a cada minuto que passa se degrada e desagrada. Muitos são felizes é claro, mas outra maioria chora assim que encosta a nuca no travesseiro, uma pena eu não ser desses que espera a camuflagem do anoitecer para desabar.

Não acho que a dor que sinto agora seja pior que as anteriores, mas é essa que vem dizendo ao meu coração que insistir não parece mais a melhor opção. Estou farto de sorrir a fingir, de concordar quando pouco me importo, de mentir para mim mesmo ao cogitar que ainda há esperança. Quando as pessoas te perguntam se está tudo bem é mais por formalidade do que por qualquer outra coisa, por norma não queremos nunca ouvir noticias más e então perder tempo a pensar no que dizer para consolar.

Os últimos acontecimentos me fizeram perceber que talvez não esteja aqui para agradar, mesmo que tentasse por milhares de vezes nunca conseguiria fazê-lo. Se estiveres a ler isto já terás recebido a má notícia com a diferença de que desta vez estarás livre de inventar frases de consolação, pelo menos não para mim.

É, eu sei que pareço sarcástico quando honrando o momento e a oportunidade, deveria parecer emotivo e angustiado, desculpa mas não quero partir e deixar a impressão de que me sinto perdido, fracassado e perturbado, pelo contrário, talvez nunca tenha estado tão racional.

E é envolto a essa racionalidade que me despeço, tranquilo e na mais absoluta consciência, talvez isso só aumente a gravidade deste pecado que dizem imperdoável ou talvez, espero, lhes faça reflectir um pouco sobre coragem, força e decisão. Decidi não sofrer mais, percebi que nada me obriga a conviver com angustia em todos os cantos do corpo fazendo as honras da circulação sanguínea. Minha respiração exala melancolia que agora prendo para não infestar o meu redor.

Escrevi versos para driblar o tempo (encontre-os), criei histórias para fugir da minha. Não sou masoquista, não persigo o sofrimento, ele porém se sente magistralmente atraído por mim e me persegue como fera correndo atrás de sua presa.

Não tenho mais a certeza de que meu coração se encontra no mesmo lugar, pelo menos não a dor que ele carrega, explodiu uma granada dentro de mim e estou cansado de apontar e contar os destroços. Vou agora atrás do escape, do descanso, sinto que ainda posso minimizar os estragos. 

quinta-feira, 25 de junho de 2015


Pegar uma mochila, deixar tudo para lá, acampar. Trabalhar como caixa, garçom, guia ou vendedor de sapatos, pouco importa. Colectar histórias, roubar, as escrever. Não se preocupar com nada, não ter um passado, não esperar um futuro, amar o presente, se contentar com o simples, consigo.

Dedicar tempo para se amar tal como amaria seu grande amor. Fazer de seu corpo e mente sua religião. Não pensar na morte como um fim. Pescar, plantar rosas, aprender idiomas, amar os animais, separar o lixo. Fazer de sua mente e corpo seu templo, sua sociedade, prisão e liberdade. Viver tão intensamente quanto possível. Ler no dicionário o significado da palavra "palavra". Se conectar. Notar as coisas, o redor, realmente respirar o ar, inalar o frio, sangrar, sentir que está vivo.

Vá pegar sua mochila, correr para desbravar o mundo, para viver de verdade, viver a verdade, sua verdade. Valorizar. Deixar de chorar, passar a sorrir.

Lembra de quando era criança, de quando dizia o quanto amava sua mãe e seu pai não tinha vergonha de lhe beijar em público? Lembra da última vez que correu? Não para fugir, ir atrás ou se definir, mas quando correu, com todos os pés e todos dedos, sentindo a maciez da areia, o calor nas juntas, não se importando com o vento no rosto, com o equilíbrio...estava alegre, sem fôlego, ria, satisfeito.

O que procuras agora senão contaminação? Segura a minha mão, sinta a pulsação, estamos vivos, somos reais, específicos, impressionantes, podemos ser o que quisermos ser, se o quisermos ser. Não, não ouça o que digo, ouve o que dizes, pensa em dizer algo, qualquer coisa, sussurra, grita.

Eu acho que existe um universo ai dentro da sua cabeça a espera de se tornar real, não o reprima, não o domine, não o sacrifique, apenas deixe, o convide a aparecer, a se mostrar, liberte-o, não o deixe implodir. 

quarta-feira, 10 de junho de 2015

MORRER DE MORTE MORRIDA


Estive aqui a pensar que a morte, dependendo da forma como se morre, não deve ser assim tão má, há qualquer sensação de paz que ameaça me alcançar quando medito sobre ela. Uma amiga um dia disse que o nome disso é "Ideação Suícida",  quando nossa vida está um caos idealizamos na morte paz e tranquilidade. Não sei se concordo ou discordo, mas digo algo: tenho hoje 90 anos, há quase um século respiro o ar cada dia mais rarefeito desse mundo e sei que estabilidade é a última palavra de seu dicionário.

Em minha jornada, atravessei décadas de luxo e miséria, pisei em solos que prosperam e depois secaram na mesma rapidez, passei por transformações, vi mudanças que não mudaram e evoluções involuir . Estudei, muito pouco devo dizer, mas aprendi o suficiente ao longo da vida para saber o quão ela pode ser cruel. Conheci lugares, dores e amores. Me apaixonei. Casei quase como sonhei, tive filhos, os vi crescer, também ter filhos e morrer. Não há caos e babel que eu já não tenha presenciado. Hoje sou apenas saudade, nostalgia e enfermidade.

Quando penso na morte, confesso que penso na calmaria, sei que se acontecer de forma rápida quase não dará para sentir, será como piscar. Se for súbita, a imprevisibilidade é bem vinda, gosto de surpresas. Se for lenta, bem verdade que é agoniante e dolorosa, mas é também gentil a dar tempo para  eventuais despedidas físicas, espirituais e de consciência.

Quando penso na morte, há qualquer sensação de paz que ameaça me alcançar, não gosto das marcas, velhice e dos tons sépia impressos em meu rosto, fotografias e móveis. Me sinto uma denúncia ambulante. Seja de morte morrida ou de morte matada , é sedutora a incerteza e a curiosidade de saber o que vem a seguir. 

domingo, 17 de maio de 2015

O Jogo


Posso eu ser o tipo de homem de se ter? Posso, dentre tantas pessoas, ser o maior merecedor de te conhecer, de ficar contigo? Acreditarás tu no meu amor se eu disser que estou com saudade ou que tens toda minha fidelidade? Eis um aviso: Não confie muito em mim

Eu sei mentir muito bem, fingir melhor ainda. Foi assim que fiz te apaixonares. Eu sei ser o teu melhor amigo, sei dizer por palavras aquilo que querer ouvir, sei elogiar quando vestes tuas jeans preferidas, sei falar mal dos outros e nos enaltecer, sei te repreender para depois pedir desculpas.
Também sei me afastar para que tenhas de mim necessidade.

Quando voltar, serei rude para depois ser fofo, terei ciúmes dos teus amigos, pedirei para ver as fotos da tua galeria e assim saber por onde andaste. Olharei no fundo dos teus olhos com o magnetismo de quem quer neles se encontrar. Irei fingir não prestar atenção ao que dizes, mudarei de assunto, morderei os lábios, sussurrarei segredos no teu ouvido.

Quando for embora outra vez, arranjarei algo para parecer estar chateado, não responderei tuas mensagens e serei monossílabo nas chamadas. 

Em contra partida, actualizarei meus status com frases de amor, vou compartilhar uma playlist que vai deste phill collins, passa por musica clássica, bossa nova e termina com someone live you (tua predilecta). Vou dar like nos teus posts todos até os "bom dia". Vou me fazer presente, vou dar corda a o que quer que nasça de ti.

Mas quem sabe esse jogo que faço não acabará por prender-me a ti, quem sabe aos poucos não me apaixono de verdade? Para muitos, tu és a mulher que se pede a Deus e que ele força recusar.

domingo, 3 de maio de 2015

Parte II

Eu achei que depois do "Eu te amo" a liberdade se instalava por completo, que eu podia ser eu mesmo 100% e tu com certeza me irias entender. Eu contava que a ilusão que criaste de mim fosse durar tempo suficiente para se confundir com a realidade, infelizmente, nem a maior das paixões consegue mascarar imperfeições por muito tempo. 

Eu te disse uma vez que o que eu mais odeio em ti são teus olhos e o que eu mais amo é o teu olhar. Teus olhos são comuns, ordinários, de um castanho tão vulgar que quase se confunde com preto. Mas teu olhar, é intenso, enigmático e, sobretudo, observador.

Ironicamente foi esse olhar que me traiu, esse olhar no qual eu já quis me perder e mergulhar profundamente me traiu quando revelou-te verdadeiramente quem eu era, alguém complicado, que gosta de ser triste para poder se sentir vivo.

Me lembro do quão rápido surgiste, meu coração foi logo tomado pela sensação de possessão e eu já sabia que daquele momento em diante nunca mais seria o mesmo. Minha matéria definhava e meu fôlego esmorecia, eu tentava provar ao mundo que te merecia ao mesmo tempo que lutava para travar uma batalha interna: minha luta pelo equilíbrio.

É ainda mais assustador quando o inimigo com quem precisamos lutar não reside fora e sim dentro de nós. Sempre fui meu maior adversário, medo e insegurança me acompanham a cada segundo, talvez por isso, tudo onde ponho a mão perece. Sou incapaz de construir algo forte e perpétuo, vivo num holograma de fragilidade.

Comparados aos meus, seus defeitos são qualidades, seus pecados virtudes. Comparada a mim, meu amor, tu és céu e eu inferno.

Demorei para perceber que más atitudes jamais sobrepõem boas intenções. De qualquer forma, uma cabeça como a minha nunca produz boas intenções. Não conseguimos fingir ser outra pessoa quando sequer entendemos quem somos. 

domingo, 26 de abril de 2015

Havia aquele rapaz


Havia aquele rapaz. Ele era amigo do amigo do meu vizinho de quarteirão lá no bairro. Era filho único, foi planeado quase da mesma forma que se planeiam grandes negócios. Durante nove meses esteve numa barriga que além de muito amor, respirava cuidado, dietas exemplares, pré-natais e abstinência.  Foi-lhe dado o nome do avó, um grande homem todos diziam. Cresceu educado, comportado e era muito inteligente. Não tinha vícios. Estudou nas melhores escolas, conheceu diversos lugares e falava vários idiomas. Na faculdade sempre esteve engajado, foi militante de causas, escuteiro, era bom de oratória, bom de amigos, bom de coração e bom de cabeça. Se formou com distinção na carreira escolhida pelos pais e não demorou para encontrar seu primeiro emprego. No segundo já era patrão.

Um dia conheceu alguém, uns admiraram, outros invejaram, mas ninguém ficava indiferente. Seus pais aprovaram, afinal, esse alguém era alguém. Se estavam realmente apaixonados, ninguém sabia. Sabiam que ele mandava flores para ela todas as semanas, se arriscava em serenatas, fazia tudo o que ela pedia e estava sempre mais sorridente quando ao lado dela. Logo noivaram, logo o casamento foi marcado.

Havia este rapaz, amigo do amigo do meu vizinho de quarteirão lá no bairro, que 24 horas antes de seu matrimonio ia a conduzir devagar e despreocupado pela avenida principal. No banco ao lado, felicidade, no de trás, as alianças. Mas havia também aquele caminhão que vinha no sentido contrário, seu condutor que não era nem parte da história estava bêbado. Surgiu uma luz, ouviu-se um grito, viu-se o embate, um tentou travar outro desviar, já era tarde.

Alguém morreu e não foi o cabrão roubador de histórias. Mais detalhes são desnecessários mas posso dizer que do corpo do rapaz pouco restou. Choramos todos, os pais, a noiva, os amigos, os vizinhos, a sociedade. Ele era jovem, tinha um futuro pela frente como se gosta de dizer. Ao descer o caixão, não descia junto qualquer conquista material, não descia nem corpo completo, descia esperança, sonhos, descia qualquer coisa dos pais (e ficava a culpa), descia qualquer coisa de todos nós, descia um futuro. Mas possivelmente subia uma alma. 

sexta-feira, 24 de abril de 2015

"Existirmos, a que será que se destina?"



O ser vivo nasce, cresce, reproduz e morre. É por isso que vivemos. É para isso que cá viemos. Um dia alguém criou uma teoria chamada de "hierarquia das necessidades", a satisfação plena, dizem, está em termos que superar escalas de uma pirâmide para atingir a auto-realização.

A sociedade nos impõe desde cedo a agir de determinada forma para podermos ser aceites e premiados com a palavra "perfeito" carimbada na testa. Modelos e padrões foram criados pois somos marionetas de um mundo que gosta de ser injusto, comparativo, cruel e hipócrita. Somos obrigados a logo cedo traçar planos mesmo sabendo que a maioria deles termina em fracassos (seja optimista, proferem!).

Aonde reside a felicidade? Numa casa dos sonhos? No melhor emprego? Em ter o corpo como aquele da revista? A felicidade realmente existe ou é só uma desculpa para que os perdedores enxerguem luz no fundo do túnel e tenham motivação para lutar? Talvez o que existe, são apenas momentos em que a tristeza e a fadiga resolvem ir embora, desapegar um bocado e esquecer que somos delas dependentes.

Por falar em desapego, porquê é tão difícil? Porquê nos iludimos e preferimos nos prender a futuros com pessoas que no fundo, sabemos não ter futuro? Choramos por mortes que sabemos, jamais serão ressuscitadas."Antes só que mal acompanhado", uma das piores mentiras já inventadas pelo ser humano, aceitamos sim ouvir mentiras, perdoamos traições, acreditamos na redenção do vilão. Ninguém suporta ficar sozinho. Mas nada disso é culpa nossa, tudo é culpa deles.