domingo, 3 de maio de 2015

Parte II

Eu achei que depois do "Eu te amo" a liberdade se instalava por completo, que eu podia ser eu mesmo 100% e tu com certeza me irias entender. Eu contava que a ilusão que criaste de mim fosse durar tempo suficiente para se confundir com a realidade, infelizmente, nem a maior das paixões consegue mascarar imperfeições por muito tempo. 

Eu te disse uma vez que o que eu mais odeio em ti são teus olhos e o que eu mais amo é o teu olhar. Teus olhos são comuns, ordinários, de um castanho tão vulgar que quase se confunde com preto. Mas teu olhar, é intenso, enigmático e, sobretudo, observador.

Ironicamente foi esse olhar que me traiu, esse olhar no qual eu já quis me perder e mergulhar profundamente me traiu quando revelou-te verdadeiramente quem eu era, alguém complicado, que gosta de ser triste para poder se sentir vivo.

Me lembro do quão rápido surgiste, meu coração foi logo tomado pela sensação de possessão e eu já sabia que daquele momento em diante nunca mais seria o mesmo. Minha matéria definhava e meu fôlego esmorecia, eu tentava provar ao mundo que te merecia ao mesmo tempo que lutava para travar uma batalha interna: minha luta pelo equilíbrio.

É ainda mais assustador quando o inimigo com quem precisamos lutar não reside fora e sim dentro de nós. Sempre fui meu maior adversário, medo e insegurança me acompanham a cada segundo, talvez por isso, tudo onde ponho a mão perece. Sou incapaz de construir algo forte e perpétuo, vivo num holograma de fragilidade.

Comparados aos meus, seus defeitos são qualidades, seus pecados virtudes. Comparada a mim, meu amor, tu és céu e eu inferno.

Demorei para perceber que más atitudes jamais sobrepõem boas intenções. De qualquer forma, uma cabeça como a minha nunca produz boas intenções. Não conseguimos fingir ser outra pessoa quando sequer entendemos quem somos. 

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. "Sempre fui meu maior adversário, medo e insegurança me acompanham a cada segundo, talvez por isso, tudo onde ponho a mão perece. "

    Há algo de muito belo neste texto que faz ser um dos meus favoritos.

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